estupidamente aborrecida.

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,

Cansaço...

Álvaro de Campos

2 comments:

email said...

tenho pena de ainda não ter dado a devida atenção ao nosso nando pessoa. Sempre que leio o 'homi' arrepia-se-me a pele. Confesso que perdi sempre o sentido da literatura e dos autores no tempo da escola... um tipo naquela idade não tem maturidade para entender coisas do espirito. Agora gosto muito, na mesmissima proporção que os detestava na escola... fundamentalmente porque temos a possibilidade, hoje, de pesquisar a historia dos autores... e entender o que escrevem á luz do que viveram... e de como traduzem isso na escrita e nas ideias e nas associações que fazem. Apetecia-me voltar a estudar esses gajos todos... um a um... e pronto é isso... vou pesquisar o nandinho rita.

email said...

ah... lê a 'passagem das horas' de alvaro campos...