Perturbador. Hipnotizante. Marcante. Sinistro. Controverso. Palavras que me surgem para descrever o filme Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010) interpretado pela sempre fantástica Natalie Portman.
"Thriller psicológico baseado no famoso balé “O Lago dos Cisnes” de Tchaikovsky, “O Lago dos Cisnes” é um balé de autoria de Tchaikovsky que conta a história de Odette, linda, pura e virginal menina que foi sequestrada e aprisionada no corpo de um cisne branco pelo diabólico feiticeiro Rothbart . Pelo feitiço, de dia ela e seu séquito seriam cisnes e à noite reassumiriam sua forma humana, sendo quebrado somente por um homem que lhe jurasse amor verdadeiro. Com o sequestro de Odete, sua mãe, de tanta tristeza, chorou copiosamente e suas lágrimas transformaram-se num lago em que os cisnes se reuniam. Após ganhar de aniversário um arco e flechas, o Príncipe Siegfried sai para caçar na floresta e chegou ao lago dos cisnes. Ao cair da noite, vê as aves tornando-se em mulheres e logo se apaixona pela Rainha dos Cisnes, Odette, convidando-a para um baile na noite seguinte. No baile, Rothbart aparece com sua filha Odile com a aparência de Odete, mas como se fosse um cisne negro transformado. Seduz Siegfried e ele lhe jura amor eterno, pensando ser Odette. Ao chegar ao baile, o cisne branco percebe que o único que a amou não lhe era mais fiel e, portanto, o feitiço não seria quebrado. Voando de volta para o lago dos cisnes, Odette se depara com Siegfried, que lhe pede perdão e entende que a Rainha dos Cisnes será para sempre uma ave; desesperada e magoada, o Cisne Branco atira-se no lago e morre, porque somente a morte lhe daria a tão sonhada liberdade."
O filme tem como papel de parede o mundo do ballet de Nova York, e mostra a estranha relação de Nina (Natalie Portman) e Lilly (Mila Kunis). Nina é uma menina que dança na grande companhia de ballet do grande coreógrafo Thomas Leroy (Vincent Cassel), sem que tenha interpretado grandes papéis. Contudo, com a aposentação forçada da grande diva Beth Macintyre (Winona Ryder ), O lugar de rainha dos cisnes fica vago. Nina consegue o papel, personagem esta que é um cisne, que ora é branco e puro, ora é negro e perverso, apesar de Thomas achar que sua disciplina e delicadeza virginal são perfeitas para o papel do Cisne Branco, mas a luxuria e sedução do Cisne Negro é sempre interpretada pela mesma bailarina, pois elas têm que ser iguais afinal para enganar o Príncipe. O problema é que Nina ainda vive num mundo de fantasia e pureza, tendo sido reprimida e super protegida pela mãe uma ex bailarina que nunca chegou perto do estrelato e projeta na filha suas frustrações, e isso reflete-se no perfil pisquiatricamente duvidoso de Nina (costuma coçar-se de nervosa até sangrar, arranca pedços de pele, é bulímica, cleptomaníaca e extremamente retraída). Ela tem 28 anos, ainda mora com a mãe e o seu quarto é rosa, cheio peluches e adormece ao som de uma caixa de música.
Iniciados os ensaios, Thomas insiste pungentemente que Nina deve libertar-se de sua ortodoxia e deve buscar seu lado selvagem e livre, ou seja, somente conseguirá interpretar a Rainha dos Cisnes com perfeição se deixar de lado um pouco de seu perfil “cisne branco” e permitir-se viver as experiências do cisne negro. Nina, envolve-se então num thriller psicológico cheio de referências a “O Lago dos Cisnes” e onde não se consegue distinguir entre realidade e esquizofrenia.
O papel de um cisne negro, perverso e sedutor revela-se um tremendo desafio para ela, e à medida que Nina vai entrando mais no papel, ela começa a perceber que está a perder a sua sanidade mental.
As oscilações de Nina e principalmente sua transformação no Cisne Negro na noite de estreia do “Lago dos Cisnes” são cenas bastante fortes, pois seu alter ego deixa bem claro que, para que a bailarina possa interpretar essa personagem, é capaz de tudo, inclusive de cometer crimes.
Cisne Negro não é uma história de ballet, trata-se de uma história em que o maior conflito ocorre na mente de Nina, cuja sensação de segurança proporcionada pela mãe começa a desaparecer no momento em que ela descobre que está despreparada para o papel mais importante da sua vida.
O longo clímax de Cisne Negro tem algo de épico, repleto de reviravoltas que me impediram de respirar com tranquilidade durante todo o filme.
"Ela só queria ser perfeita. Ele só queria mostrar uma vida sem barreiras. "
Dois lados, duas facetas, luz e sombra, uma dualidade eterna representada no conto do Cisne Negro. Há duas forças maiores em conflito: a busca pela perfeição e o autoconhecimento.
O Cisne Negro levanta várias discussões e questiona uma sociedade de exageros: mentais e físicos. Mostra as reacções desconexas de uma mente decidida a criar sua própria versão da realidade, libertando desejos reprimidos, sonhos selvagens e atitudes impensáveis.
São duas histórias simultâneas colaborando para um final apoteótico.
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